1- A visita
Já era tarde da noite de inverno quando Angra preparava-se para dormir. Ele ascende à lareira e dirige-se para a janela, onde olha a paisagem fria e coberta pela neve. O céu está escuro e ele ouve uma forte batida em sua porta, o que faz o jovem elfo dar um sobressalto. Ele se dirige até a porta e a abre. Os olhos se arregalam quando ele vê a figura rastejante parada na sua porta. Um menino que a aparenta ter a sua idade. Sua pele é tão branca que consegue ser confundida com a neve, se não fosse por seus cabelos pretos como o céu daquela noite e a capa preta. Os olhos são um pouco puxados e são macabramente dourados.
-Ajude-me por favor!- diz o menino tremendo.
Angra está paralisado de susto mas ajuda o menino. Ele o leva para dentro e o deita em sua cama. Ao tocar suas mãos, Angra exclama:
-Deus! Você está congelando!
-Eu fiquei muito tempo na neve...- disse o menino-Qual é o seu nome?
- Angra Fëanor...E o seu?
-Mordred of Gomorrah.
- Me desculpe...Eu me assustei com você...
-Por que?
-É inverno e os elfos estão muito preocupados em sobreviver...Como você chegou aqui?
-Você mora perto das árvores e eu tive que me arrastar para a primeira casa que eu vi. E você? Mora aqui sozinho?
-Sim. Os meus pais morreram e eu tive que me criar sozinho. Por enquanto está dando certo...Você tem família, Mordred?
-Sim. Meu pai se chama Arthur e minha mãe se chama Morgana. E tenho dois irmãos. O mais velho se chama Julian e a mais nova se chama Emily.
-Será que eles me aceitariam?
Mordred sentiu sua espinha gelar.
-Não. Eles não querem mais filhos...
Angra baixou a cabeça e Mordred ficou olhando para as pontinhas das orelhas de Angra, que apareciam meio escondidas atrás de seus cabelos longos e loiros...E agradecendo por ele ter um cabelo tão comprido que cobria os lados de seu pescoço.
-Mordred...Está tarde, acho melhor irmos dormir...
-Está bem...
Angra preparou uma cama para Mordred e eles foram dormir. Mas Mordred ficou acordado a noite toda.
Já está tarde e Mordred continua acordado. Então ele se levanta, procurando algo que o disperse. Então ele bate o olho em Angra, que dorme em um sono profundo, com a cabeça virada. Isso preocupa Mordred, que tenta se controlar para não morder Angra. Se fosse qualquer outro elfo, ele já teria mordido, mas Angra salvou-lhe a vida e ele tinha que retribuir. Então o sentimento de desejo foi ficando cada vez mais forte.
Os caninos de Mordred cresceram e ele avançou no pescoço de Angra, que acordou assustado.
-Mordred, o que...
Mas ele foi interrompido pela mão de Mordred tapando sua boca. Mordred tentou morder o pescoço de Angra, mas este deu uma cotovelada no estômago do vampiro, que o soltou tentado recuperar o fôlego. Angra correu até a porta, mas antes de conseguir tocar na maçaneta, Mordred apareceu em sua frente. Mordred segurou Angra pela nuca e posicionou dois dedos na frente de seus olhos dizendo:
-Angra...Durma...Agora...
Angra sentiu suas pálpebras pesadas.Mordred acompanhou o corpo com uma mão agarrada à nuca do elfo, suavizando a queda. Mantinha os dois dedos na frente dos olhos do rapaz.
-Você não vai lembrar-se de nada...-disse ele carregando Angra e colocando-o em sua cama.
2- Os macabros olhos dourados
São sete da manhã quando Angra acorda. Ele sente dores na cabeça e no coração. Porém não se lembra de nada. Ele encontrou Mordred sentado em uma cadeira na sala de estar (que era junto com a cozinha).
-Bom dia Mordred.- ele disse esfregando a cabeça.
-Bom dia.- responde Mordred sorrindo.
-Mordred...Eu tive um sonho...
-Que sonho?
-Sonhei que eu fui mordido por um vampiro.
-Você viu o rosto dele?
-Não. Estava muito escuro. Falando nisso, posso abrir a janela...
-Não!
-Mas...Por que?
-Pelo amor de Deus, Angra não abra!
-Mordred, conte-me o que está acontecendo!
-Angra...Não tenha medo de mim... É tudo que lhe peço...
-O que foi?
-Eu sou um vampiro, Angra...Não tenha medo...Não vou fazer-lhe mal...
-Por que...Mordred...Por que você não me contou?
-Por que tinha medo que você tivesse medo de mim...
-Oh Mordred...Confesso que tenho medo de vampiros...Mas você é meu amigo...
-Sim...Angra...Meu coração está inquieto.
-Por que?
-Aquilo não foi um sonho.
Angra deixou o queixo cair e Mordred disse com os olhos se enchendo d’água:
-Eu tentei te morder...
-Por que, Mordred?
-Eu estou desesperado por uma gota de sangue...
-Eu percebi...Seu rosto está abatido...
-Eu estou fraco...Não sei se irei resistir...
-Mordred...Eu não sei onde te arrumar sangue.
-Não precisa ser de elfo. Posso muito bem encarar uma refeição vegetariana. Você tem algum gado?
-Tenho. Um gado de vacas. É pequeno, mas...
-Dê-me uma.
-Como? O sol...
-Mate uma e me dê o sangue.
Angra foi até o pasto e matou uma vaca, tirando todo seu sangue. Ele deu para Mordred que o bebeu desesperadamente.
-Nossa...- disse Mordred limpando o sangue dos cantos da boca-Eu precisava disso...
Angra sorriu.
3- Vampiros!
Ao cair da noite, Mordred leva Angra ao cemitério onde mora para o elfo conhecer a família do vampiro. Quando chegam lá, Mordred diz:
-Seus cabelos são longos. Longos o suficiente para cobrirem os lados de seu pescoço.
Angra arrumou os cabelos dos lados do pescoço. De repente, Mordred parou de andar e disse virando-se para Angra:
-Ah e mais uma coisa: vampiros adoram o sangue dos elfos. Então tome cuidado.
Angra fez “sim” com a cabeça. Depois de andar muito, em um lugar bem distante do cemitério, eles encontraram a família de Mordred. Mordred apresentou Angra à sua família, que não suspeitou que ele era um elfo. Até que bate um vento em direção aos vampiros. Julian, o mais velho, está sentado em uma lapide e diz cheirando o ar:
-Nossa...
Ele se levanta e diz:
-Você trouxe um lanchinho para nós, Mordred? Um jovem Elfo Silvestre...Não é tão doce quanto os Vanyar, mas eu aceito de bom grado.
Ele mostra os dentes e avança em Angra, que dá um passo para trás. Mordred ficou entre os dois e mostrou os dentes para Julian.
-Ele é meu amigo!- disse Mordred ferozmente-Ninguém vai tocar nele!
-Mordred!- disse Arthur na direção a filho-Por que trouxeste um elfo para casa?
-Pai...Entenda...Ele é sozinho, não tem ninguém que cuide dele...
-Entendo. Você o trouxe para que o adotássemos...
-Não...Eu queria que ele ficasse...Só por um tempo...
-E neste tempo ele será devorado pelo seu irmão rebelde.
Arthur lançou um olhar de morte a Julian, que sorria malignamente para Angra.
De repente eles ouvem um grito vindo de longe:
-Vampiros!
Os olhos de todos se arregalaram.
-É o caçador de vampiros!- gritou Emily aflita.
Julian abraçou Emily e Arthur gritou:
-Escondam-se!
Angra olhou para Mordred, cujos traços mostravam pavor.
-Angra!- gritou Mordred enquanto se via correndo para um lado e o elfo para outro.
Mas não deu tempo de voltar atrás. Angra rapidamente se escondeu atrás de uma lápide. De repente surge na frente dele, o caçador de vampiros que se chama Jack Recker com uma lanterna na mão. Angra se assusta e o homem o agarra pela camisa. Ele coloca uma estaca na direção do peito de Angra, que grita:
-Socorro!
-Isso!- diz o homem-Grite e chame os outros vampiros! Vou mandá-los todos ao inferno!
-Você não vai tocar neles!
O homem abre a boca para protestar, mas depois fecha. Ele analisa o rosto de Angra e diz:
-Você não é um vampiro...
Ele pega a estaca antes posicionada na frente do coração de Angra e usa a ponta para empurrar os cabelos da orelha dele. De repente Julian aparece e avança no caçador, que enfia a estaca no estômago do vampiro. O caçador sai correndo e Angra segura Julian quando ele cai de joelhos no chão gritando de dor. Morgana vai ao socorro do filho.
-Ele está morrendo...- lamenta Arthur.
-Não!- grita Morgana desviando os olhos para Arthur.
-Mordred!- diz Angra-Eu sei como salvá-lo!
-Não dá mais, Angra.- diz Mordred-O destino dele está traçado.
-Não...- geme Julian cuspindo sangue no chão.
-Mordred...-diz Angra alarmado com a situação do vampiro-Eu conheço as ervas...Temos de levá-lo para casa...
-Para o teu inverno congelante, elfo miserável?- disse Arthur ferozmente.
-Sim. Para meu inverno. E para que a magia das ervas o cure.
No final tiveram que deixar Julian ir. Angra cuidou de Julian a noite inteira. Depois de um dia, Julian pôde voltar para o cemitério. Agora a família de Mordred o respeitava, principalmente Arthur, que teve que engolir o “elfo miserável”.
4- A prova de amizade
Angra está voltando para casa depois de ir ao cemitério. Está escuro e nublado.
De repente ele ouve uns passos. Pega sua adaga e fica a espreita. Um vulto o agarra por trás e tapa sua boca. Ele se debate e solta gritos abafados, mas não adianta. Ele consegue cortar o braço do vulto que o solta. Angra desesperado larga a adaga no chão e corre até sua casa, onde se tranca em seu quarto, tentando recuperar o fôlego.
Ele ouve um barulho muito alto. Arrombaram a porta de sua casa. Angra aperta os olhos com medo.
-Ai!- geme Mordred.
-O que foi, Mordred?- pergunta Emily.
-Senti um calafrio...Um aperto no coração...
-Cuidado Mordred-diz Julian-Quando isso acontece é sinal de que algo ruim vai acontecer...
-Não diga isso, Julian!
Emily arregala os olhos.
-Eu sinto algo...-diz ela.
Ela começa a caminhar para fora do mausoléu onde eles vivem e Julian e Mordred a seguem.
Ela vai para detrás de uma lápide e depois volta segurando um bilhete nas mãos. Ela o lê e começa a chorar. Julian a abraça e Mordred tira o papel das mãos dela. Ele lê em voz alta:
- “Você terá de lutar para conseguir o que perdeu, jovem vampiro”.
Há uma gota de sangue seca no final do bilhete. Julian solta Emily e toma o papel das mãos de Mordred, que não entendeu o significado do bilhete. Ele cheira a gota de sangue e diz voltando os olhos arregalados para Mordred:
-Sangue de elfo.
-Que tipo de elfo?- pergunta Mordred preocupado.
-Elfo Silvestre.
-Não...- geme Mordred com os olhos enchendo-se de lágrimas - Não o Angra...
Recker amarra as mãos de Angra atrás das costas com couro cru. O elfo derrama lágrimas, pois o couro machuca e corta seus pulsos. A idéia de Recker foi essa, amarrar Angra com couro cru para que quando os vampiros viessem desamarrá-lo, teriam de lutar contra seus instintos.
-Pare, por favor!- geme Angra chorando de dor-Está me machucando!
Mas Recker não dá ouvidos e aperta mais o couro.
-Me solte...
Recker amordaça Angra com um pano. Ele o deixa lá e se esconde.
-Se aquele maldito encostar um dedo no meu amigo...- disse Mordred enquanto voava com Julian e Emily para o castelo abandonado, onde Recker estava com Angra.
-Pobre Angra...- disse Emily enquanto tentava acompanhar os irmãos-Meteu-se nessa confusão por nossa culpa...
-Eu não devia ter aparecido na vida dele! Só trouxe problemas para ele desde que cheguei!
-Mordred, não foi sua culpa e nem do Angra.- disse Julian-Recker quer nos destruir e raptou Angra para conseguir isto! O menino só tinha uma adaga como proteção...E não sabe lutar...Mas ele é esperto e foi com essa esperteza que ele conseguiu se sustentar quando os pais dele morreram.
-Como você sabe disso?
-Ele me contou quando estava cuidando de mim. E disse também que “se nós formos mais espertos que o inimigo, nós vamos vencer”. E temos de ser espertos, fortes e ágeis.
Mordred deixou escapar uma lágrima, que se perdeu na escuridão.
Eles chegaram ao castelo e deram uma olhada pela janela. Mordred sentiu seu coração apertado quando viu Angra todo amarrado e indefeso. Julian colocou a mão no ombro de Mordred e disse:
-É uma armadilha. O caçador não ia deixar Angra ser uma presa tão fácil para nós. E veja: seus pulsos estão cortados para fazer-nos sentir vontade de morder Angra. E ele está amordaçado para não dizer que é uma armadilha.
-Como chegou a esta conclusão?
-Eu não sei...Estou usando minha lógica talvez...
-Então não devemos entrar pela porta, pois Recker nos aguarda com um sentimento de morte...
-Sim.
Eles entraram pela janela dos fundos e começaram a lutar com o caçador. De repente seus pais chegam para ajudá-los.
No meio da luta, Recker consegue golpear Arthur no pescoço, que desmaia.
Quando Mordred desamarra Angra, Recker crava uma estaca em seu peito. Ele a martela e ela vai afundando. Angra vai ao socorro de Mordred, mas ele já está morto. Então Angra leva uma machadada na cabeça e seu corpo cai em cima do de Mordred.
Julian pega uma lança e atravessa o corpo do caçador, que cai morto no chão. Morgana chora enquanto tenta reanimar Arthur, que acorda e vai ao encontro dos meninos. Emily está tentando reanimar Angra e Mordred, mas não adianta.
Agora é tarde.
Fim
Jo como sempre você surpreende com os seus textos maravilhosos e muito bem escritos, uma futura escritora!!!!!
ResponderExcluirContinue escrevendo assim sempre!!!!!!!!!
Bjks!!!!
Jules
Ooooooorra meu! Q historia triste jo! Fikai muto tristi!
ResponderExcluir