terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Mímico

Ele estava parado na minha frente e olhava-me fixamente no rosto, quase sem piscar. Sua boca era a coisa mais estranha que eu já tinha visto; se mexia como se ele tentasse falar, mas não conseguia e às vezes se contorcia em um sorriso, em várias expressões. Ele executava esses movimentos com uma rapidez e precisão que me deixava assustada. Mas eu sabia que, no fundo, ele queria falar. Suas mãos, muito brancas por natureza, estavam posicionadas na frente de seu peito como se guardassem algo. E então seus olhos se arregalaram e brilharam enquanto o som saia com dificuldade de sua garganta.
"Eu quero que fique com isto. É muito precioso, tenha cuidado..."
Eu estava apavorada, aquilo não podia ser humano! E ele abriu as mãos, entregando a mim uma rosa vermelha, com as pétalas desgastadas. Eu finalmente entendi: aquilo era o amor que ele tinha por mim, um amor forte e sofrido. Eu segurei com delicadeza a rosa com as mãos e ele sorriu como nunca havia sorrido antes.